terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A abnegação da maternidade, um desabafo

Eu não sou eu mais eu. Já não me pertenço. Divido-me em cinco, mãe, dona de casa, enfermeira, chefe de banda, cozinheira. Limpo o pó e o ranho. Lavo chão e rabos. Arrumo pratos e brinquedos.
E estou tão farta, como quero uma folga... Duas ou três horas para arejar as tranças não me chegam. Preciso sair, espairecer sem hora marcada para dar de mamar ou ir buscar à escola. Apetece-me olhar apenas para o meu umbigo só um bocadinho.
Sou uma ingrata para com a vida tão generosa que vivo, bem sei. Não me falta nada -- juízo não conta -- mas falto-me eu. Tenho saudades de mim, de dar umas gargalhadas sem hora marcada, de ter a ilusão de que sou independente, de que sou livre.
Stop that! Aproveita o que tens, o tempo passa rápido e daqui a instantes os petizes já partiram à conquista do mundo, armados até aos dentes com a confiança que o teu colo lhes deu e aí não terás senão tempo em mãos. Lembra-te dos pais a quem foram roubados os sonhos de uma paternidade pacata e comezinha, keep things in perspective!
Estou exausta. Pergunto-me como fazem os outros (as outras?). E como raio calo o grilo.

18 comentários:

  1. Eu acho que todas Nós passamos pelo mesmo.
    Coragem que tudo se recompõe.

    Xi

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  2. Esse é o lado de que ninguém fala, porque parece mal, porque "oh ser mãe é a coisa mais linda do mundo". E é. Claro que é... mas também é a mais exaustiva e desesperante. Às vezes só me apetece fazer as malas e desaparecer durante um mês... quais três horas, quais quê.

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    1. O lado B da maternidade é tão exasperante quanto solitário, é difícil assumir que queremos ser como éramos "dantes". Eu contentava-me com um dia inteirinho só para mim, nem pedia mais que isso.
      Um sorriso!

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  3. Os outros e as outras estão tão exaustos como tu! Só que, na maioria das vezes, não o dizem.
    Eu, por exemplo, estou agora aqui a escrever-te e a tentar ignorar a gritaria que vai ali na sala, e a ignorar a louça por lavar e a roupa por engomar... Também estou exausta e a precisar de férias, porque o trabalho não diminui quando eles crescem, é apenas outro tipo de trabalho. E também me apetece fugir e também penso que tenho que aproveitar agora, mas outras tantas vezes penso "aproveitar o quê?"! Eu passo a vida a ralhar e a gritar e a castigar... os momentos de sossego e de carinho são tão poucos... não porque não goste deles, mas porque eles me dão cabo do canastro e eu chego ao fim do dia e só quero que eles durmam, e depressa, para eu ter um pouco de sossego! E depois, todos os dias são iguais, uns atrás dos outros... É uma seca, é o que é!
    Mas também é muito bom! É tão bom ouvi-los dizer "mãe, gosto tanto de ti!", é tão bom sentir os seus beijos e os seus abraços, é tão bom vê-los crescer e sabermos que estamos a fazer um bom trabalho! Mas, caramba, dá mesmo muito trabalho!
    Beijocas, minha querida! E força, muita força!

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    1. Eu pareço tu ou tu pareces eu. No que diz respeito à Mia eu só tenho gritado, castigado, punido, ralhado... Ela anda difícil e, suponho, a tentar afirmar-se, e eu ando cansada, de pavio curto, e impaciente. Uma combinação explosiva. O Max é um bebé calminho, graças aos deuses, mas dá o trabalho que qualquer bebé de cinco meses dá. Uma alegria, mas cansa.
      Eu é que ando em baixo de forma e nem sei bem por onde começar a sair do buraco. Enfim...
      Um sorriso possível.
      Um sorriso

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  4. my dear, todas passamos pelo mesmo. e com dois, a coisa é muito mais intensa. é ir andando, um dia de cada vez, que a coisa vai melhorando, com o tempo...

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    1. Sim... mas até isso eu não quero, sabes. Quero o meu bebé pequenino por mais tempo. Os meus bebés, que a pequena está a crescer tão rápido. Eu não faço sentido, eu sei... Se por um lado quero ver-me livre desta canseira por outro quero tê-los só meus mais um bocadinho.
      Um çemaile!

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  5. Como me identifico com estas palavras. Não acrescento nem uma virgula. Só posso assinar por baixo.
    Também estou a passar por uma faze menos boa. To grávida de 4 meses e em janeiro tive um descolamento da placenta e a possibilidade de abortar ainda está muito presente por isso repouso absoluto, junta-se a isso o fato de ter ficado desempregada e não arranjo trabalho nem para varrer ruas, tenho um pardalito de 3 anos e meio. O ordenado do meu marido no espaço de menos de 2 anos ficou reduzida a metade e tinhamos a vida organizada para o tempo em trabalhavamos os 2. Enfim o drama de milhares de pessoas eu sei. Mas por tudo isto tenho chorado muito sozinha porque não gosto que os outros me vejam em baixo. Por norma sou o pilar de todos, logo tenho aquela sensação de não poder desiludi-los, logo tenho vivido esta adversidade da vida calada e em parte sozinha...O meu marido ajuda-me muito e a minha sogra também, mas sempre fui habituada a fazer as coisas sozinha, ajudar os outros e principalmente a esquecer-me de mim...
    Enfim, melhores dias tem de vir!

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    1. Ai Rute, bolas, bolas, bolas, que chatice, rapariga! Parece que uma desgraça nunca vem só! Nem sei o que te dizer senão que estou a fazer figas por ti e pelo teu bebé pequenino, está tudo torcido, até os dedos dos pés!
      Eu também sou muito independente e detesto ter de pedir ajuda. Mas, sabes, também estive de repouso e valeu-me a minha mãe e a sua boa vontade. Tu, que também já és mãe, entendes como fazemos tudo pelos nossos filhos, nem é preciso pedirem (bom, eu obrigo a minha a pedir tudo mas isso é porque estou a tentar ensinar-lhe maneiras e a verbalizar o que sente/deseja). Deixa que cuidem de ti e saboreia o carinho nas mais pequenas coisas.
      Quanto a suportares tudo em silêncio, don't, divide as tristezas que isso ajuda. Eu hoje sinto-me muito melhor, por exemplo. Ontem, quando publiquei o post, estava em baixo, aborrecida, sentia-me sozinha e desamparada. Hoje já me sinto mais acompanhada, ouvida, e acarinhada. Fez-me maravilhas ler as palavras de apoio e compreensão. Partilha tu também, digo-te. Se quiseres, por cá tens sempre um sorriso amigo e um abraço à tua espera.
      Um xi apertado mas com jeitinho!

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  6. Querida Maria Bê, apesar de te sentires sozinha, não estás:-/ Não és a única a sentir isso, embora não te sirva de consolo. Há dias muito difíceis (ou fases).
    Um abraço:-)

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    1. Querida Triss,
      Já vi o teu post e ainda não pude comentar. Ainda bem que te sentiste acompanhada, só eu sei o quão melhor estou agora.
      Acho que estou a atravessar uma fase menos boa. Faltam-me muitas coisas ao mesmo tempo, tenho muitas saudades da minha família e dos meus amigos de Portugal, até das promessas de amizade sinto falta. Felizmente tenho a minha mãe comigo, mas ela vai embora daqui a um mês e depois fico sozinha. O meu marido só trabalha e pouco ajuda (bom, atendendo a que pagar as contas é muita ajuda até participa muito, mas fica-se por aí).
      Consola-me um bocadinho sim, ainda que fique triste pelos teus desafios, nomeadamente a mudança de local e consequente pouco contacto com a tua filha. No ano passado estive a trabalhar e passei de Segunda a Sexta sem ver Mia e só eu sei o que sofri (ver a tua pequenina só à noite é quase o mesmo). Safou-me, mais uma vez, mamãe...
      Um abraço também para ti!

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  7. Para quem ainda não chegou a essa fase não foi lá muito boa ideia ler este teu post... :) Beijocas

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    1. Miss,
      Eu nunca te escondi o lado menos bom da coisa...
      Bora comer uma lasagna e um pão de alho? A que horas nos encontramos? Se eu me atrasar pede a 7-up com duas pedrinhas de gelo. Se chegar eu mais cedo peço a Coca-cola.
      Saudades...

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  8. Ai amiga... há uns 3 ou 4 anos andava a família toda a convencer-me a ir para o terceiro... eu duvidava, porque com os dois primeiros a chegar aos 8 estava a começar a voltar a ter vida... depois lá me deixei convencer... sabes uma coisa, nos últimos dois meses em que murphy assentou arraiais por estes lados e tudo correu mais ou menos ao contrário, dei por mim mais que uma vez a lembrar-me desses dias...

    Acredita, todos passamos por isso.. há dias em que os vendiamos ao desbarato só para termos uma nesga de vida do que já fomos.

    Jorge

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    1. Já um dia aqui escrevi que me apetecia dar a pequenita ao circo, nem era preciso vendê-la, até pagaria... aliás, faço-o todos os meses à escola.
      Anda a custar-me muito o desenraizamento, sabes? Tu, que emigrantaste e desemigrantaste, talvez me percebas melhor. Há fases em que precisamos mais de quem nos conhece bem e eu estou assim. Esta clausura do deserto está a espartilhar-me, a vida mudou em demasia e eu não tenho um único galho familiar em que me apoiar. A minha vida faz-me falta, os meus fazem-me falta, e eu faço-me falta.
      Um sorriso agradecido pelo teu comentário!

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  9. Passei só para te deixar um beijinho enorme de força e solidariedade. Por aqui, também já se começa a sentir esse lado B da maternidade que tão bem descreves. Acredita que não estás sozinha! :) força e ânimo. E se quiseres desabafar, já sabes... Estou à disposição!

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  10. Mãe sofre e mamãe também! ...

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